Rincão do Inferno
Rincão do Inferno, de Tom Belmonte | Carta Editora, 2025, 240 páginas
Um faroeste gaúcho e fronteiriço
Rincão do Inferno, novo livro de Tom Belmonte, mergulha numa trama sem perdões ou curas
Uma família despedaçada por desamor, assassinato, vingança e dinheiro. Rupturas emocionais marcadas na pele e na alma. Enredo já visto na literatura e na cinematografia, mas desta vez entranhado na pampa, mais precisamente na fronteira oeste gaúcha. Região de beleza natural e simbologia única, mas de vazio existencial para as personagens de Rincão do Inferno, novo livro do gaúcho Tom Belmonte e que está sendo lançado pela Carta Editora.
Com 240 páginas, arte de capa do artista gráfico Éverson Godinho, orelha do escritor e cineasta Boca Migotto e prefácio de Humberto Trezzi, um dos mais premiados jornalistas brasileiros, a obra disseca o universo fraturado da família Silveira, núcleo principal da trama, e daqueles que os circundam. Emoções que podem levar o leitor a surpreender-se com a profundidade do pântano sentimental das personagens, onde o amor é mero fragmento e algo relacionado a perdas e dores. Belmonte, que por anos atuou no periodismo gaúcho como repórter de Polícia e vive hoje na costa sul catarinense, pinça e expõe esse abismo afetivo com uma naturalidade textual que prende o leitor à trama, marcada por tiros, perseguições e uma vendeta com pitadas também sobrenaturais. Rincão do Inferno, vale destacar, é a esperada continuação da obra de estreia do autor, Círculo de Sangue, lançada em 2023 e com a primeira edição esgotada, hoje disponível apenas em formato digital.
De maneira crua e por vezes sutil, a narrativa vai sendo conduzida a divãs e encruzilhadas emocionais, mostrando que os limites entre a sensatez e a loucura são tênues e o estopim para as sombras das personagens são a mágoa, o rancor e o orgulho. Rincão do Inferno está ambientado na Porto Alegre do início do século, na fria Zurique e nas fronteiriças São Borja, Itaqui e Bagé – onde está situada a belíssima localidade do Rincão do Inferno, além da uruguaia Aceguá. E é nesse rincão longínquo e distante que habita cada personagem, nessa fronteira caudilhesca e cenário de guerras seculares do Brasil e do Rio Grande do Sul, que o autor constrói as batalhas espirituais das personagens, envoltas numa ancestralidade e natureza humana de controle e confronto. Um texto que “destila talento em cada linha”, diz Boca Migotto, e um “faroeste caboclo”, como sintetiza Trezzi. Livro onde uma constatação fica clara ao leitor: não há cura sem perdão.